Novo livro de poemas de Cássia Oz – “Sobre Viver” – ganha resenha zarfeguiana
Por Almir Zarfeg.
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A segunda obra poética de Cássia Oz – “Sobre Viver” (Editora Inde, 2024) – possui tão somente um poema, a saber, o mesmo que intitula o livro em questão e ensejou a presente resenha. A primeira obra é “Via Vida” (Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2018), que também li e resenhei com muito gosto. Nas duas obras prenominam o tom confessional e o lirismo melancólico.
Pois bem, o poema revela dois aspectos semânticos facilmente identificáveis, à primeira leitura, porque aparecem pressupostos no texto. No primeiro nível (1ª estrofe), “Sobre viver” significa “saber sobre a vida”. Entre outras palavras, expressar-se sobre a vida; acumular conhecimento ou repertório sobre a arte de viver, etc.
Na 3ª estrofe, a poeta insiste na tal ignorância socrática: “Pouco sei / Ou nada / Sobre viver”. Em que temos: sobre (preposição) e viver (verbo intransitivo) bem claros e distintos gramaticalmente.
Na 4ª estrofe, o texto traz o segundo aspecto semântico (ou segundo nível), em que temos apenas o verbo “sobreviver”. Ou seja: permanecer vivo; superar as dificuldades e desafios; seguir resistindo aos altos e baixos, às provações diárias.
Portanto, tendo em vista esses dois níveis semânticos, podemos afirmar sem medo de errar: o poema “Sobre Viver” trata daquelas duas famosas dimensões que costumam marcar, voluntária e involuntariamente, a existência dos seres humanos: (1) a transcendência e a (2) imanência. A primeira diz respeito às ideias, às crenças e aos simbolismos. Já a segunda abarca a existência propriamente dita, o dia a dia, o estar no mundo vasto mundo, como defendem os existencialistas.
Porém (e sempre tem um porém), se o poema “Sobre Viver” desse conta apenas desses dois aspectos semânticos, poderíamos taxá-lo de razoável, na pior das hipóteses. Só Que Não (SQN) ou Lêdo (e Ivo) Engano, como diríamos em outra época.
Porque, já na 2ª estrofe, o eu lírico introduz um elemento de força poética, com ressonância não somente no fundo (sentido), como também na forma (expressão) dos versos livres que compõem o texto. Esse mesmo elemento reaparece na 4ª e última estrofe, para fechar a composição em grande estilo ou com chave de ouro.
Estamos falando na verdade da “alma da poeta”, que aqui não precisa ser comparada com o “eu lírico” ou o “alterego” da autora, senão com algo transcendente, espiritual e conectado com as suprarrealidades judaico-cristãs, as matrizes afro-brasileiras e as ordens metafísicas.
Com efeito, a mesma alma que, apesar de triste, sente tudo que existe; embora calada, engole e assiste a tudo bem devagar. Essa entidade personalíssima que, mesmo cansada, “não se deixa morrer”. E, se preciso for, estará sempre pronta para matar ou morrer a fim de sobreviver.
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Dito isso, segura e facilmente, agora podemos concluir que “Sobre Viver” é um bom poema e que, por extensão, “Sobre Viver” constitui um bom livro, porque um livro de um bom poema. Aliás, um boníssimo poema, minha gente!
Além disso, o novo livro é prefaciado pela mestra Enelita Freitas e, se não bastasse isso, epigrafado por Clarice Lispector. E, por último mas não menos importante, apresenta uma série de fragmentos – num total de 90 – que você, leitor sobre/vivente, vai devorar feliz da vida ou sobrevida. Porque, enquanto houver poesia, haverá uma esperança. Decreta Cássia Oz.
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Fonte: Almir Zarfeg – poeta e jornalista – é presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras (ATL)